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Entrevista com Renata Ventura, a autora de A Arma Escarlate

O OPD conversou ontem (24) com a escritora brasileira Renata Ventura, conhecida por inúmeros potterheads brasileiros pelo romance de fantasia A Arma Escarlate, inspirado na série Harry Potter e que foi lançado em 2011, pela editora Novo Século. Em 2014, foi lançada uma continuação denominada A Comissão Chapeleira.

Em Salvador, em um evento de fãs na loja Saraiva do Shopping Salvador, nossa tradutora Clarissa Magalhães questionou a Renata sobre o seu processo de criação, o envolvimento com J.K. Rowling, a polêmica de ''Harry Potter não é literatura'', assuntos pontuais referentes à história de a Arma Escarlate, entre outros itens.

Leia a seguir a entrevista e não esqueça de comentar!

Quando foi que você resolveu escrever A Arma Escarlate? Qual foi o gatilho que lhe fez ter a ideia central?

Eu desde que lia Harry Potter, eu lia Harry Potter e ficava imaginando como seria a comunidade bruxa no Brasil. Com certeza não seria tão arrumadinha quanto Hogwarts, ou a comunidade inglesa. E quando eu vi uma entrevista com a J.K Rowling, quando um fã americano perguntou a ela se ela escreveria alguma história de bruxaria nos Estados Unidos, e Joanne respondeu que "não, mas se ele quisesse, ele podia escrever a dele", eu pensei: nossa, perfeito! Escreverei a minha se passando no Brasil!

Como foi esse processo de publicação? A J.K. Rowling autorizou? Como foi isso?

Então... Ela autorizou nesse sentido! Ela falou que quem quisesse fazer um livro sobre as escolas em seus próprios países, poderia. Eu não usei nada que ela criou, pra não dar problema. Não houve nenhuma questão burocrática justamente por isso.

E Joanne [Rowling] já leu? Ela sabe do livro?

Eu quero muito que ela saiba! Já mandei o livro de presente pra ela, fui lá na Inglaterra e deixei na editora dela. Eles falaram que entregariam a ela, mas não sei se entregaram... Ela fala Português, né? Ia ser lindo se ela lesse.

Falando nisso, A Arma Escarlate era antes uma fanfiction, certo? 

Na verdade, uma história só pode ser chamada de fanfic quando usamos personagens que já existem, como os personagens de Harry Potter, ou quando a história se passa em Hogwarts, por exemplo. No meu caso, é um livro inspirado em "Harry Potter", mas não tem nada que ela criou nele. Só elementos que ela mesma pegou emprestado de livros de séculos passados também.

O que você acha sobre essa expansão das fanfictions? 

Eu acho super legal. Porque eu, como leitora, gosto de saber mais sobre determinado "mundo". Quando um escritor para de escrever sobre esse mundo, é bom que tenha alguém que continue. Assim nós continuamos lendo! Eu sempre gostei de livros-séries. Que tenham mais e mais volumes. E eu acho que é também muito bom para os próprios escritores de fanfic, que acabam treinando a escrita através delas para depois virarem escritores profissionais, como foi o caso da Cassandra Clare, que escrevia fanfic de Harry Potter e agora é famosa com seus próprios livros.

E você também, não é? (risos). Você já escreveu fanfiction antes?

Na verdade, eu nunca cheguei a escrever fanfics. Eu fazia fanfics na minha cabeça, mas não escrevia. Quando eu era mais jovem, eu era fã de "007", e eu ficava revoltada porque ele nunca se machucava. Nas fanfics da minha cabeça, ele sempre se ferrava. Ou ele era torturado, ou ele tinha um filho e depois perdia...  Resumindo, ele sofria muito. Tudo na minha cabeça. Depois, eu resolvi colocar todo esse sofrimento nos meus livros. 

Como você vê essa influencia que Harry Potter tem nesse universo de leitura e escrita dos jovens?

Harry Potter revolucionou a literatura! É absolutamente maravilhoso. Fez as crianças começarem a gostar de ler. E até mesmo os jovens e adultos que não tinham esse hábito.

E sobre a polêmica de "Harry Potter não é literatura"?

Há anos e anos que eu discuto com essas pessoas que ficam classificando livros como sendo ou não "literatura". Poxa, se é um livro, se está escrito, e conta uma história, é claro que é literatura! Acabou a discussão. Os clássicos de hoje em dia, na época deles, eram os livros populares. As pessoas dizem "Ah, eu leio Shakespeare porque sou intelectual", mas, cara, na época de Shakespeare ele era popular; coisa do "povão". Na época, era considerado entretenimento de massa. A gente acha mais complexo, porque não é a nossa linguagem. Porque vivemos em outro tempo. Mas acredito que Harry Potter daqui uns 200 anos também vai ser considerado um clássico da literatura. Se já não é. Aliás, vou começar a responder isso quando alguém me disser que Harry Potter não é literatura: "Não só é literatura como já virou um clássico da literatura!"

O que Hugo se assemelha a Harry? E se difere?

O Hugo só tem parecido com Harry os olhos verdes, só isso (risos). Harry é bonzinho, sempre faz a coisa certa; o completo oposto do Hugo. O máximo que Harry fez de errado nos livros, que eu me lembre, foi ter usado o sectumsempra no Malfoy. Eu falei "caraca, o que foi isso?" Pro Hugo, isso seria normal. Ele já faz algo assim no primeiro livro, quando ele ataca o Abelardo. Hugo é mais agressivo e arrogante, bem diferente.

E os temas que você escolheu para abordar? Como desigualdade social, crime, tráfico (incluindo o “pó magico”, (risos) ), ditadura, etc, por que esses?

Foi aparecendo naturalmente, pelo lugar que Hugo nasceu e tal. Os temas foram surgindo; uma coisa foi levando a outra, e de repente eu fiquei "ai meu deus, eu coloquei isso no livro! Esse livro era pra ser infanto-juvenil, e agora?". Agora, virou juvenil-adulto.

Daqui a pouco vamos ter que mostrar a identidade para comprar o livro!

Sim, sim, (risos). Os livros vão ficando progressivamente mais pesados, acho. Assim como Harry Potter, que começou infanto-juvenil, e foi crescendo, crescendo, até culminar naquele genocídio do livro 7, (risos)... No meu caso, é como se fosse o Harry 8, Harry 9, em nível de coisas bizarras (risos). 

Hora do spoiler! Mais lá na frente, os Pixies vão ajudar na segunda guerra bruxa? Sempre quis saber sobre isso.

O meu primeiro livro se passa em 1997. Então é entre os acontecimentos de Harry Potter 6 e 7. O meu segundo livro se passa em 1998, quando termina Harry Potter. Então eles mencionam a guerra e o que está se passando por lá, mas é realmente complicado levar os Pixies para a Europa. Eu teria que usar coisas que a Tia Jô inventou...

Mas e se ela ler o seu livro e gostar?

Aí sim, claro. Seria maravilhoso se ela autorizasse!

Para terminar, queria que você desse um conselho aos novos escritores. Como e por onde começar?

É tão complexo! Cada um tem seu processo. Tem gente que começa com uma página em branco, e escreve: "página 1". Eu não consigo fazer assim. Eu vou colocando tudo num arquivo, sem ordem, depois eu ordeno... Cada um tem um estilo. Mas a dica que eu dou sempre é que leia muito, e leia de tudo, leia de outros estilos, não só do que você está escrevendo. E leiam não-ficção também, que isso dá muitas ideias. E preste atenção nos personagens. Eles precisam ser muito complexos, não podem ser superficiais.

Mas eu não consigo pensar numa história por vez! Sou muito dispersa. Sempre que escrevo uma história, me vem outra, e outra, e termino me perdendo...

Vai anotando. Abra um arquivo pra cada história, e sempre que tiver uma ideia pra cada uma delas, joga no arquivo correspondente e vai enchendo ele. É assim que eu faço. Demora um pouco, mas o livro fica mais rico. Meus livros, se você percebe, sempre são enormes.

Mas você já sabe o final do último, certo? Já vai planejando todos pensando no final. Como se fosse uma trama principal, e você vai separando, não é isso?

Exatamente. Eu já separo desde o começo. Como,em cada livro, Hugo vai visitar uma das escolas, já tem uma coisa mais definida nesse sentido. Mas sempre vão surgindo novas ideias e eu vou encaixando onde melhor cabe em cada livro. 
Post Author

Hiago Freitas

Criador do site (um dia foi newsposter), é escritor de textos espiritualistas outro blog. Também escreveu ''J.K. Rowling - A biografia [não autorizada] da escritora inglesa que revolucionou a literatura infantil'' e ''A Última Mensagem

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