A edição ilustrada de Harry Potter e a Pedra Filosofal teve seu lançamento hoje! Chegando nas prateleiras do Estados Unidos e Reino Unido, o livro, que conta com mais de 100 ilustrações coloridas e possui dimensões maiores do que já vimos nos livros da série, é uma grande obra de arte. Jim Kay, o ilustrador desse livro e responsável pela ilustração dos 6 próximos, concedeu uma entrevista ao Correspondente do Pottermore comentando sobre como foi ilustrá-los.
Além disso, o Pottermore lançou o vídeo em que o artista também comenta sobre seu processo criativo e mostra algumas imagens novas! Veja o vídeo legendado abaixo, e você pode ler uma entrevista igualmente interessante a do Pottermore feita pelo The Telegraph clicando aqui! E ver outro vídeo da BBC com o artista mostrando seu estúdio por este link.
Várias imagens do livro já estão sendo liberadas, você pode conferi-las, junto com todas ilustrações liberadas até o momento, no final dessa postagem! Enfim, leia abaixo a entrevista traduzida do Correspondente Pottermore com o Jim Kay.
Lembrando que o livro será lançado aqui no Brasil ano que vem pela Rocco, mas você pode comprar o livro em inglês pela Amazon, seja a edição americana (US$22,41) ou britânica (£15), além de algumas lojas aqui no Brasil, como a Saraiva (R$150), Cultura (R$205) e Amazon Brasil (R$158).
O artista Jim Kay fala com o Correspondente Pottermore sobre ilustrar Harry Potter
Jim Kay se parece com uma de suas ilustrações.
Porque ele é gentil e cativante, isto é - não porque ele é um esboço. O premiado ilustrador de Harry Potter está sentado ao meu lado, em uma das extremidades de uma mesa de mogno, com uma xícara de chá.
A edição ilustrada de Harry Potter e a Pedra Filosofal do Jim está entre nós dois. Eu passo meu dedo por sua lombada macia e fria e abro em uma das minhas páginas favoritas: é uma imagem da Hermione Granger no corredor de Howarts.
"Hermione é completamente baseada na minha sobrinha. Ela é sempre tão doce." Ele diz, movendo sua mãos no ar como se elas estivessem um pouco perdidas sem um pincel.
"Para mim ela é a Hermione: estudiosa e ligeiramente, bem, não é distante, mas ela tende a me repreender bastante quando me vê. Ela está constantemente dizendo que eu não estou me comportando adequadamente, então o caráter é exatamente o mesmo."
Como alguém cujo sustento são palavras, nunca havia me ocorrido que um ilustrador poderia precisar de pessoas reais, objetos reais e lugares reais para desenhar. Certamente não pensei que alguém como o Jim iria construir uma réplica do castelo de Hogwarts feita de papelão e massa de modelar, mas chegaremos nisso.
Primeiramente, olhe os entalhes complexos na parede e porta atrás da Hermione. Jim colocou o nome de amigos seus no meio de outros. Cada detalhe é algo que o Jim viu e coletou em cadernos de rascunhos através dos anos. Isso é o que mais me fascina; ele passa sua vida coletando imagens do que vê e as armazena para a usar na ilustração certa.
"O graffiti foi, em parte, inspirado pela Torre de Londres, onde prisioneiros eram mantidos naquelas celas pequenas, úmidas e horríveis." ele diz.
"A única coisa que eles tinham era tempo, então fizeram esses belos entalhes comoventes nas paredes. Então foi isso, mas eu também vivia em Harrow e costumava passar por essa parede em uma escola famosa para meninos todo dia. Os meninos tinham entalhado seus nomes nos painéis de madeira com o passar dos anos, incluindo Lorde Byron e Winston Churchill. Foi literalmente há apenas duas semanas que eu descobri que eles filmaram algumas partes de Harry Potter lá. Eu não tinha ideia - para mim era apenas uma parede que eu gostava em 1992.
A porta em si é de uma adorável velha igreja que eu visitei uma vez em Suffolk. Quando você está viajando, faz notas rápidas e pensa, eu quero usar isso um dia. Pode ficar no caderno de rascunhos por 10 ou 20 anos antes de eu usar. Finalmente, eu tive a chance de usar a porta e o graffiti."
Toda essa edição ilustrada está repleta de momentos e pedaços da vida do Jim. Ele infundiu as histórias de J.K. Rowling com fragmentos de seu próprio mundo e eu de repente quero ouvir a história que deu origem a cada centímetro de cada pintura. Eu passo para uma ilustração do Alvo Dumbledore vestindo robes roxos e peço ao Jim para desconstruir suas inspirações para mim.
"Dumbledore é baseado em um amigo que vive do outro lado do mundo. Ele é extremamente gentil. Ele havia visto meus rascunhos originais, então posou nas mesmas posições e me enviou essas fotografias maravilhosas. Então eu vestia esse roupa meio que roxa e refletiva e sentava de frente para um espelho para ver a iluminação e as sombras corretamente."
Só imagine isso. Imagine Jim sentando em um quarto seu, vestido como um bruxo, tentando fundir seu próprio reflexo com fotografias de um amigo barbudo para conseguir pintar o Alvo Percival Wulfrico Brian Dumbledore de forma certa. Então chegamos a importância daquele louva-a-deus na direita.
"Eu gosto de simbolismo em pinturas." Jim explica, e uma pequena curiosidade que eu não sabia que sabia vem para a frente da minha mente. A palavra 'mantis' (O nome do louva-a-deus em inglês é praying mantis) significa 'profeta' e tradicionalmente deve ser um símbolo de paciência, intuição e sabedoria.
"Há um louva-a-deus ali porque para mim o Dumbledore é honestidade. Ele é honesto e sábio, mas sempre há uma ressalva para sua honestidade, quando ele guarda para si informações também. Depois há as gotas de limão, mas isso é apenas porque ele gosta delas. Ele escreveu um livro sobre sangue de dragão, então isso também está na pintura. O vaso é um vaso real que eu vi no Metropolitan Museum em Nova York, muitos, muitos anos atrás. Não há uma conexão de verdade ali, eu só vi e gostei dele."
Então Jim já conhecia uma Hermione e um Dumbledore em sua vida. Ele conhecia todas essas pessoas antes de pintá-las, eu pergunto, ou ele abordou estranhos?
"Harry foi o último que encontrei, na verdade. Eu o vi no metrô de Londres. Ele estava pendurado nas barras do metrô como um macaco e estava com a sua mãe, então eu disse 'isso pode ser um pouco estranho, mas o seu filho tem uma singularidade fantástica."
Não foi até bem depois, Jim me conta, que ele pôde contar a esse pequeno menino e sua mãe que ele foi a inspiração para Harry Potter. Esse livro era um projeto altamente confidencial na época, então qualquer estranho que Jim usou como modelo tinha que entrar no projeto sem saber quem eles estavam interpretando. Algo parecido aconteceu com o homem da vida real que Jim escolheu para ser o Hagrid.
"Quando eu vi o Hagrid pela primeira vez, ou melhor dizendo, eu cara que parecia o Hagrid, andando pela cidade, ele era esse cara grande e velho com barba e vestindo uma camisa de heavy metal. Ele parecia assustador mas na verdade foi bem gentil. Um verdadeiro gigante gentil, como o Hagrid. Na verdade, gigantes são minha coisa favorita de se desenhar."
Ele gira o livro sobre a mesa levemente em sua direção, encontra essa imagem do Hagrid, e empurra de volta para mim. "Eu amo ilustrar gigantes porque isso faz você como um adulto se sentir como uma criança novamente, olhando para cima para ver alguém. Quando você é um menino, passa muito tempo da sua vida olhando para cima para ver as pessoas. Como um adulto, eu estou olhando para o Hagrid da mesma forma, você está pensando sobre o Hagrid como uma criança pensaria de um adulto. Eu gosto disso. " (look up, em inglês, é olhar para cima, mas ao mesmo tempo significa admirar alguém, e o Jim Kay brincou com esse significado nesse trecho)
Assim como as outras imagens, essa do Hagrid é uma mistura de coisas que o Jim já viu antes.
"Tem um banda chamada As Esquisitonas (Weird Sisters) que toca em Hogwarts, então elas são as iniciais no cachecol que ele está usando. J.K. Rowling disse uma vez que Hagrid é quase como um motoqueiro e assim eu pensei que ele poderia gostar de rock. Havia um zelador na minha escola que colocava no cinto coisas que os alunos tinham lhe dado. Então eu pensei que seria legal o Hagrid ter isso. Ele tem distintivos que os alunos lhe deram e um pequneo macaco espacial perto da fivela do cinto. Essa fivela, você vai perceber, é tão grande quanto sua cabeça. Essa é a perspectiva forçada com a qual trabalho em gigantes. Eu gosto dessa sensação de escala e massa."
Entretanto, Jim não apenas supõe as escalas. Ele é meticuloso demais com seu ofício para isso. Jim constrói pequenos modelos de cada personagem com massa de modelar e os coloca bem gentilmente em sua Hogwarts de papelão, assim ele pode testar a forma como a luz atinge cada um em tempos diferentes do dia. Para conseguir fazer o Hagrid certo, ele alinhou um conjunto daqueles pequenos soldados de plástico do exército para representar as crianças em Hogwarts e então construiu sua própria escultura do Hagrid na escala correta.
"Eu os arrumo como se estivessem em um pequeno teatro de brinquedos. Isso me ajuda," ele diz. "Você imagina como se estivesse filmando, onde você colocaria a câmera. É diferente para cada ilustrador, mas eu preciso de algo tangível na minha frente."
Jim está trabalhando integralmente em Harry Potter, como ele diz - e esse é o motivo que ele tem acumulado tubos de papelão e rolos de papel higiênico por anos. Ele limpou seu sótão para poder construir uma Hogwarts em escala maior lá, não que ele tenha tempo. Ainda faltam seis livros de Harry Potter para ele ilustrar e cada um irá consumir todo seu tempo. Só pense em todos os personagens que ainda faltam para Jim encontrar entre sua família, em trens, nas ruas e em rostos de amigos ao redor do mundo.
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