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Leia a crítica do jornal Le Monde sobre Cursed Child: ''Uma peça de sucesso, mas dispensável''

O jornal francês Le Monde publicou hoje (14) uma crítica de Harry Potter and the Cursed Child, a peça teatral que estreou em julho deste ano e é a oitava história da série. Na França, falta pouco para a edição nacional do roteiro de ensaio ser lançado - o que aparentemente justifica o ''atraso'' da crítica. 
A crítica faz elogios a peça de Jack Thorne e John Tiffany, contudo, pega realmente pesado quando vai ''condená-la'', o que vemos desde o título. Confira o trecho destacado abaixo:

''A principal desvantagem desse roteiro, no entanto, reside nas aspirações contrárias de Jack Thorne: ao tentar oferecer uma sequência à história de J. K. Rowling sem, contudo, assumir o impacto dessa nova aventura na série original, o escritor, um admirador de Harry Potter, concebeu uma história ao mesmo tempo ambiciosa e conservadora.''

Quem assina a crítica é a jornalista francesa Rosita Boisseau. A seguir, você poderá lê-la na íntegra, traduzida para o português por nossa tradutora Amelina Aquino.

''Harry Potter e a Criança Amaldiçoada: uma peça de sucesso, mas dispensável

O oitavo volume da saga de J. K. Rowling será publicada na quinta-feira em francês. Ela cumpriu apenas metade da missão para com os fãs.

Harry Potter voltou. Pela primeira vez no palco do Palace Theatre de Londres, com ingressos esgotados desde o verão, é encenada a adaptação de  Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, a nova aventura do bruxo de óculos, mas também livro homônimo. Lançado em inglês no dia 31 de julho, no dia seguinte à estreia, a tradução francesa chega às livrarias na sexta-feira, dia 14 de outubro.
J. K. Rowling, criadora da saga, achou necessário esclarecer, antes do lançamento, a natureza da oitava obra em um tweet postado para seus fãs: 

« Vou ser clara! O ROTEIRO da Criança amaldiçoada será publicado. #Nãoélivro #nãoéprequel »

To be clear! The SCRIPT of #CursedChild is being published. #NotANovel #NotAPrequel 😉 https://t.co/3OhdOBIqJt
— jk_rowling (@J.K. Rowling)

Um ponto importante para poder valorizar essa sequência. Especialmente quando sabemos que a publicação do livro se deve à  "maciça demanda dos fãs" que não terão oportunidade de assistir às peças.

Sequência direta das Relíquias da Morte, Harry Potter e a Criança Amaldiçoada  começa no ponto exato onde esse livro terminou: na plataforma 9 3/4, dezenove anos após a morte de Voldemort, quando Albus Severus, o segundo filho de Harry Potter, está prestes a entrar  na escola de bruxaria de Hogwarts. Em cuja escola ele não irá encontrar seu lugar e, muito rapidamente, começa a odiar. Sua amizade inesperada com Escórpio, filho de Draco Malfoy, irá se juntar à longa lista de motivos de discórdia que separam Harry de Albus. A relação complicada entre o pai e seu filho, no cerne da intriga, motiva o adolescente a embarcar em uma missão com consequências potencialmente desastrosas para o mundo bruxo.

O enredo, assinado pelo dramaturgo Jack Thorne, que projetou a base, em conjunto com J. K. Rowling e o diretor John Tiffany, consegue nos  fazer mergulhar  no mundo mágico de Harry Potter. É realmente surpreendente  virar as páginas em um ritmo frenético e se adaptar, num piscar de olhos, a um formato narrativo até então inédito na saga: uma sucessão de didascálias e diálogos.

Fanfiction e serviço aos fãs

A principal desvantagem desse roteiro, no entanto, reside nas aspirações contrárias de Jack Thorne: ao tentar oferecer uma sequência à história de J. K. Rowling sem, contudo, assumir o impacto dessa nova aventura na série original, o escritor, um admirador de Harry Potter, concebeu uma história ao mesmo tempo ambiciosa e conservadora.

Isso é o que explica as inúmeras passagens dignas de uma fanfiction, as histórias amadoras imaginadas em torno de uma obra de ficção conhecida, em vez de uma sequência "apoiada" por J. K. Rowling. Assim, além das filiações, muitas vezes sem inspiração e a evolução um pouco mais fácil para determinados personagens (como Rony), ficamos irritados ao ler diálogos particularmente enfadonhos, inclusive nos diálogos entre Harry e Albus, ou ainda durante as demonstrações de amizade eloquentes entre o herói e seu amigo Escórpio.

O retorno de alguns personagens favoritos pela comunidade de fãs também desempenha, com frequência, um serviço simples aos fãs, uma vez que seu papel não é nada mais que anedótico na evolução da trama.

330 páginas sem pausa

Apesar dos defeitos, Harry Potter e a Criança Amaldiçoada consegue seduzir graças à fluidez de sua narrativa, às referências instigadoras aos volumes anteriores e a algumas descobertas particularmente significativas (como as revelações sobre a venda de doces do Expresso Hogwarts). O distanciamento de Escórpio, pintado como ironia, torna a narrativa particularmente atraente e permite compensar a irritação que às vezes nos desperta a atitude chorosa de Albus.

Por sua vez, a história contém reviravoltas suficientes para manter os leitores em suspense por 330 páginas, sem pausa, usando com habilidade o recurso da nostalgia. O mistério em torno da identidade da famosa "criança amaldiçoada" está, por sua parte, bem enredada: trata-se de Albus Potter, incapaz de suportar as expectativas desproporcionais que pesam sobre seus ombros, ou de Escórpio Malfoy, com um passado doloroso e um sobrenome complicado de se carregar em um mundo pós-Voldemort?

A cópia em papel de uma peça de cinco horas

Infelizmente, contudo, a autora não ousou libertar sua criatividade para oferecer uma verdadeira sequência de Harry Potter: lemos a história com a sensação de ter descoberto uma espécie de complemento sincero, mas dispensável, às aventuras originais do bruxo. O roteiro também evoca ocasionalmente a questão de como o diretor conseguiu transpor para o palco esta ou aquela passagem especialmente rica de eventos mágicos para a peça de cinco horas dividida em duas partes. Como muitas das projeções de lembranças complementares sobre a natureza básica de Harry Potter e a Criança Amaldiçoada.

A apresentação dessa nova aventura em livro e no teatro – esperando uma adaptação para o cinema? – deixa, em todo caso, poucas dúvidas quanto ao futuro da série. J. K. Rowling já afirmou várias vezes que "Harry agora acabou, sinto muito", Albus, Escórpio e a nova geração de personagens apresentados em Harry Potter e a Criança Amaldiçoada não é, provavelmente, sua primeira aventura.




Post Author

Hiago Freitas

Criador do site (um dia foi newsposter), é escritor de textos espiritualistas outro blog. Também escreveu ''J.K. Rowling - A biografia [não autorizada] da escritora inglesa que revolucionou a literatura infantil'' e ''A Última Mensagem

2 comentários:

  1. Só uma correçãozinha.. Ali na tradução ta escrito "décimo filho de HP" seria o segundo filho não?

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